quarta-feira, 28 de março de 2012

Contratação e condições de trabalho dos professores



Olá! Em dado momento, tive acesso ao conteúdo exposto abaixo, referente à contratação de professores em certo projeto de ensino de música no Rio de Janeiro. Gostaria de saber a opinião de vocês sobre os pré-requisitos para a contratação de professores. Reparem que um dos pré-requisitos é que o professor esteja matriculado em algum curso superior ou técnico de música e não é mencionado um contrato que garanta as leis trabalhistas ao professor. Também são muito bem vindas opiniões sobre os objetivos do projeto e como este pretende lidar com o ensino de música. 

Júlia



Projeto de educação musical, destinado a crianças e adolescentes entre 6 e 20 anos de idade, residentes de comunidade da ########. Baseia-se na oferta gratuita de oficinas musicais – canto coral, musicalização infantil, violino, viola, violoncelo, contrabaixo acústico, violão clássico e percepção musical, e capacitação em produção cultural, audiovisual e tecnologia musical, com ênfase na área musical, realizadas em regime semestral-aulas semanais.

Veja quais são os pré-requisitos para as vagas ofertadas pelo#####:

- Proporcionar e conduzir processos eficazes de desenvolvimento musical e sociocultural para os alunos do Projeto, na especialidade de interesse (ensino instrumental, vocal ou de educação musical em geral), de acordo com as diretrizes pedagógicas gerais fornecidas pela ######;
- Adotar estratégias pedagógico-musicais atualizadas de execução instrumental, composição e apreciação musicais complementadas por atividades técnicas e de conhecimento sobre os conteúdos musicais em estudo, utilizando-se de um repertório diversificado e abrangente;
- Implementar e gerir ferramentas de avaliação diagnóstica e formativa dos alunos de modo individual e em grupo, segundo as diretrizes pedagógicas da ###, visando conhecer o grau de desenvolvimento musical dos seus alunos em cada período do processo educativo a fim de prover estratégias de aperfeiçoamento e seqüência do seu aprendizado;
- Organizar, conduzir ou acompanhar a formação de grupos musicais dentro de sua área, estimulando o aprendizado de repertório através da prática musical coletiva;
- Demonstrar habilidades técnicas, expressivas e estilísticas na execução de um instrumento de sua área, e ter conhecimento básico dos demais da mesma área;
- Conhecer estratégias de planejamento, implementação e gestão dos processos de ensino, aprendizagem e avaliação no ensino musical coletivo;
- Disponibilizar-se para acompanhar grupos musicais do Projeto em apresentações e eventos além das atividades rotineiras nos horários e no local do Projeto;
- Sempre que necessário, atender às demandas de entrevistas para veículos da imprensa, sejam elas no horário de aulas ou em gravações realizadas em estúdio, em horários diferentes dos das aulas;
- Ser organizado, assíduo e pontual, cumprir prazos e metas, ser proativo, comprometido com a sua função, e participar de atividades de formação continuada indicadas pela ####.

Pré-requisito:
Ter concluído ou estar matriculado em curso superior ou técnico de Música; vivência com projetos sociais com crianças, adolescentes e jovens; conhecer e respeitar o Estatuto da Criança e do Adolescente; demonstrar conhecimento básico de informática e Internet, para uso em atividades complementares e para comunicação com a equipe do Projeto; possuir disponibilidade para viagens e acesso diário à Internet.

Salário para professores:  R$ 20,00 a hora aula, com no mínimo de 20h semanais.

5 comentários:

  1. Oi Julia, parabéns pelo post. Vou exprimir minha opinião: Estar matriculado num curso de música, acho até válido como pré requisito, sobre o seguinte ponto de vista: Não havendo qualquer garantia de capacidade do professor, qualquer pessoa não musicista poderia concorrer e ganhar a vaga, tirando vaga de um profissional mais capacitado, além de não conseguir cumprir a função proposta para ele no projeto, o de ensinar música. O projeto exige como pré requisito uma experiencia anterior nesse tipo de atividade e projetos sociais. Se todos os projetos sociais exigem isso, como tenho visto, nunca haverá uma primeira chance pro profissional, por mais capacitado que ele seja. Quanto as questões trabalhistas, não há qualquer garantia mesmo dos benefícios que são de direito do profissional, além de oferecerem um "salário" fora dos padrões atuais. Lamentável. Acho que falta muita informação, tanto das condições do trabalho, os objetivos funcinais do projeto, e as garantias do profissional.

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  2. Bom, Ju, acredito que a questão do valor da hora-aula possa estar diretamente ligada ao requisito "cursando superior ou técnico em Música".
    Já é difundida hoje em dia (infelizmente) a idéia de que praticamente qualquer um pode dar aulas de música. Se uma pessoa que cobraria mais caro não quiser a vaga, sempre vai existir o "amigo da minha tia que toca violão", por exemplo. E essa pessoa provavelmente vai ficar muito feliz com um "dinheirinho extra pra dar aulas".
    Por outro lado, não podemos achar que a pessoa que fez o orçamento agiu com esse pensamento, pois você pode estar diante de um projeto que tem uma verba tão enxuta que o produtor não teve escolha a não ser diminuir os valores no orçamento, trazendo junto os pré-requisitos.
    E se você prestar atenção, pela quantidade de atributos pedidos, acho que você concorda comigo que um aluno de técnico em música talvez não consiga realizar alguns pontos pedidos como:
    Adotar estratégias pedagógico-musicais atualizadas de execução instrumental, composição e apreciação musicais complementadas por atividades técnicas e de conhecimento sobre os conteúdos musicais em estudo, utilizando-se de um repertório diversificado e abrangente
    Demonstrar habilidades técnicas, expressivas e estilísticas na execução de um instrumento de sua área, e ter conhecimento básico dos demais da mesma área
    Sobre a parte do contrato, não costumo ver muito essa questão de leis trabalhistas sendo utilizadas por causa do custo e por ser praticamente ainda um setor informal, pelo menos em grande parte dos casos. Não significa que eu ache certo, só acho que às vezes a pessoa não tem como dar essas garantias aos colaboradores do projeto.

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  3. Obrigada pelos comentários, pessoal. Parece que esses valores enxutos se tornaram um padrão no ensino de música terceirizado e levam à precarização do contexto como um todo: o não cumprimento das leis trabalhistas, pois digamos que o candidato a professor tivesse uma graduação em música, ele ainda sim teria que estar matriculado em algum curso técnico ou superior em música para conseguir esse emprego, para assim justificar as condições de trabalho expressas acima; além disso, essa precarização (isto é, a falta de verbas para contratar decentemente profissionais mais capacitados, os problemas em dar continuidade ao projeto, por causa da curta duração dos financiamentos, as dificuldades em garantir uma boa infraestrutura e recursos) faz com que exista um ambiente extremamente opressor para os professores que devem "mostrar muito serviço" para seus superiores (gestores, coordenadores e financiadores), mesmo sendo muito mal pagos e muitas vezes sem condições de cumprirem as elevadas exigências profissionais(como bem apontou a Cinthia), sendo obrigados a "tirar leite de pedra". Acredito que alto grau de informalidade contribui muito para a continuidade desse quadro caótico e extremamente complicado.

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    1. Faço minhas as suas palavras Julia! Você acabou de dizer tudo que eu pensei ao ler o post!
      Inclusive como professor e coordenador de um projeto de Escola de Música em uma favela do RJ fui colocado com este impasse, que era o modelo de contratação, que no final acabou gerando, por uma debilidade da instituição em não ter condições financeiras de arcar com despesas trabalhistas, numa contratação precária, o que gerou inclusive um conflito laboral logo no primeiro ano de existência, resultando na demissão dos 3 professores mais ativos no conflito, apesar do ótimo trabalho que eles vinham desenvolvendo junto ao alunos, o que inclusive gerou reverberação, pois os alunos depois queriam saber porque estes professores tinham saído, e queriam inclusive fazer abaixo-assinados e tal, porém estes professores também não tinham mais "estômago" para voltar a trabalhar lá. Esta fácil demissão por exemplo só foi possível por conta da inexistência de um contrato, apesar de haver o pré-requisito de ser formado ou estar em formação universitária em música para dar aulas no projeto.
      PS: eu fui um dos demitidos hehehe

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  4. MUITO BOM,O MUSICO HOJE NO BRASIL HOJE É MUITO DESVALORIZADO,ACHO QUE COM ISSO ALEM DE NOVAS OPORTUNIDADES TRARÁ UMA GRANDE SATISFAÇÃO,PARABÉNS PELA INICIATIVA,MUITO BOM MESMO!

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