quinta-feira, 5 de abril de 2012

O vídeo abaixo mostra um pouco sobre o Projeto Guri, um projeto de ensino de música no estado de São Paulo.

http://youtu.be/Lia9VnoFxIc


O repertório costuma não variar muito de projeto para projeto. Como mostra o vídeo, no estado de São Paulo, os estudantes de violino tocam músicas do método Suzuki e os alunos de canto coral cantam uma música da MPB: Sina, do cantor e compositor Djavan.
Algumas perguntas sobre o vídeo sobre o Projeto Guri:

O que vocês acharam do espaço disponibilizado para as aulas, ou ensaios? É um bom espaço para estudar/aprender/ensaiar?

Estudar música faz com que as crianças e jovens “saiam das ruas”?

O que é inclusão social? Como ela acontece através da música?

O que vocês acham de o instrumento pertencer ao "polo" de ensino e não ao aluno?

Por que vocês acham que o repertório é sempre muito parecido nos vários projetos que existem em diferentes lugares?

11 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. Júlia, vou comentar tuas perguntas por partes:

    1)Acho difícil avaliar a questão do espaço vendo apenas um vídeo, mas acredito que qualquer espaço pode ser um bom espaço para estudar/aprender/ensaiar.

    2)Acredito que o conceito "sair das ruas" é uma ideia etnocêntrica de que as crianças e jovens pobres não podem ter tempo livre, ócio, pois o mesmo seria demasiado "perigoso". Penso eu que as crianças devem sim ter opções de atividades para fazer durante o dia, mas de acordo com um desejo pessoal, e não de acordo com uma para mim falsa verdade de que criança pobre é potencial bandido, e que por isso os pais devem colocá-las em atividades (qualquer que sejam elas) para ocupar seu tempo e assim "tirá-las" das ruas e da "criminalidade". Baseado nesta explicação creio que não existe uma relação direta entre o estudar música e o "sair das ruas" pois a criança poderia estar estudando música nas ruas, por exemplo, como eu muitas vezes fiz na minha adolescência, acho que o tirar da ruas seria de fato uma consolidação de um pensamento preconceituoso e discriminatório de que criança pobre sem atividade está "predisposto" a fazer "coisas erradas".

    3)Acredito que a inclusão social é uma coisa pelo qual passamos todos nós humanos, independente da classe social, e independente da cultura na qual estamos inseridos, pois a partir do momento em que somos seres sociais estamos vivendo a vida em constante "inclusão social". No caso específico dos chamados "projetos sociais" (que também poderiam ser as alcunhas de escola, hospital, manicômio, shopping, igreja, etc pois todos são projetos sociais a partir do momento em que consolidam um certo viver e um certo pensar social) nas comunidades pobres acho que os mesmos se inserem num projeto capitalista de sociedade que tem por necessidade "acalmar" os ânimos de uma classe socialmente desfavorecida, explorada por uma pequena quantidade de ricos que os exploram. A história já mostrou que em muitos momentos esta classe explorada já se organizou e lutou contra seus opressores, e ao meu ver os chamados "projetos sociais", muitas vezes financiados por estes opressores, funciona para incutir uma subjetividade obediente e subserviente a partir de conceitos como por exemplo a "disciplina" do estudo instrumental "erudito", ou mesmo a ideia de que a música produzida em seu contexto social é "menor" que aquele produzida entre os ricos e a classe média (nesse caso música erudita e MPB). Assim, ao "tirar das ruas" as crianças e adolescentes que serão ultra-explorados no futuro, como seus pais já são, a classe dominante, com seus conceitos de obediência e disciplina, conseguem estar presentes por mais tempo na cabeça das crianças, para além da já sacrificantes "escola bancária", televisão, rádio, igreja, e outras instituições sociais propagadoras de subjetividade capitalística (Guattari 2005).

    Depois comento as outras

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  3. é realmente a visão de que as ruas fazem mal e levam à vadiagem, vida criminosa e ociosidade, impedem uma infância produtiva e sadia. Chega de 4 paredes! Idependente de crença, usemos com sabedoria a nossa liberdade de expressão utilizando o espaço "mundo" respeitando-o como se deve.

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  4. Bem Júlia, gostaria em primeiro lugar parabenizar pelo espaço de discussões sobre o assunto... É fundamental a existência de tais espaços.
    Tentando responder suas perguntas sobre o espaço, acho que o espaço parece fornecer uma infra-estrutura razoável se compararmos outras situações de ensino coletivo em grupo no Brasil. Obviamente que devem existir necessidades a serem atendidas, pois a busca por um espaço cada vez melhor deve ser a busca de qualquer projeto dessa natureza... (pelo menos acredito)
    Mas deixo claro que o fazer musical não deve jamais se reservar às quatro paredes da sala de aula. Esse fazer deve extrapolar esses limites, deve alcançar outros ambientes, as comunidades dos alunos, suas casas... Esse fazer deve refletir de algum modo na vida do aluno como um todo.
    Tirar os alunos da rua, deve ser no sentido de tirar os alunos de práticas marginalizadas, como o tráfico, o crime, etc. Mas se o ensino não for realmente significativo para essas crianças, perdemos qualquer possibilidade de que realmente haja essa transformação.
    Acho que não é o fato de estudar música por si só, mas é um conjunto de experiências proporcionadas a essas crianças que podem propiciar tal abandono pelas práticas marginalizadas.
    A questão da inclusão é interessante aqui, pois idealmente, ela contemplaria justamente essas pessoas, que por viverem em áreas de risco e vulnerabilidade social estão possivelmente, correndo o risco de aceitarem as tais práticas marginalizadas que falei. Não confundo aqui de modo algum, o baile funk, como uma prática marginal... Pelo contrário, é uma manifestação musical (portanto cultural) legítima. Mas é importante reforçar que mesmo que o discurso da inclusão esteja em alta... Isso não é a garantia de práticas coerentes com tal discurso, logo torna-se um espaço de discussões necessárias para a estruturação e implementação dessas políticas.
    Sobre a questão dos instrumentos, lógico que os alunos deveriam ser donos de seus instrumentos, o que dá um sentimento de pertencimento e apropriação totalmente diferente de algo que lhe é emprestado, mas acho que essas questões dialogam com aspectos financeiros de cada instituição, e por isso precisaria de mais dados para falar sobre. Mas minha posição sobre os alunos serem donos de seus instrumentos, é favorável.
    O repertório ainda é um assunto problemático, as ideologias por trás (ou a frente) das aulas definem essas coisas. Abrir é a melhor opção, ouvir de tudo, tocar de tudo, quanto mais diversos nós formos, mais críticos poderemos ser.
    Uma sociedade diversa é mais difícil de ser controlada, é menos dócil (FOUCAULT), os rótulos no enquadram em categorias que propiciam essas domesticação. Portanto tocar um mesmo repertório é a cristalização de saberes e não necessariamente a construção de um novo, pelo menos significantemente.
    Acho que minha escrita pode ter vários pontos questionáveis, e isso é bom, pois não estou pondo uma verdade, mas algo para nos mover em busca de uma verdade, sendo sabedor que a verdade é utópica. Como diz Paulo Freire, me aproximo dois passos e ela se distancia dois... é uma busca e esse espaço de debates é a prova que ainda estamos longe de uma resposta final, o que sempre nos fará se mover em direção do ideal.
    Até...

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  5. 1- Há que se levar em conta o capital de investimento para se tratar espaço físico. Creio que um projeto iniciado com poucos recursos financeiros, porém com muita vontade e gente capacitada pode muito bem dar certo mesmo em um quintal.

    2- Existem muitos casos de jovens com uma perspectiva de futuro próspero graças à educação musical recebida quando criança. É evidente que nem todos se tornam Mozart’s do século 21, mas se uma única criança passa de uma história de infância perdida para a de um jovem que teve ao invés de tempo ocioso um tempo de aprendizado. Então tudo vale à pena e prova que a musica muda algumas histórias de vidas.

    3- É difícil definir inclusão social, mas ouso dizer que é independente das características especificas de cada individuo aceitar, conviver e dar-lhe a chance de exercício de seus direitos uma vez garantido que todos são iguais perante a lei. A música a meu ver é um importante agente de inclusão social, pois da ao jovem a oportunidade de aprender e conviver de forma igualitária em um ambiente de estudo.

    4- É essencial que cada aluno tenha seu instrumento, o desenvolvimento é bem mais eficaz. Porem entendo o fato de nem todo aluno ter condições de ter seu instrumento e nem toda instituição de ensino ter como doar o instrumento a seu aluno. Entre tanto uma possível solução seria um acordo entre escola e aluno para viabilizar o empréstimo do instrumento por um tempo determinado.

    5- Creio eu, que seja uma questão de herança histórica. Provavelmente o primeiro contato do que hoje é professor de música foi com o repertório clássico e o contato do que veio antes também tenha sido. É para mim de suma importância que a criança tenha contato com os mais diversos repertórios, isso da a ela a oportunidade de abrir seus horizontes e até estudar mais a fundo algo que lhe interesse.

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  6. Obrigada pelos comentários, pessoal. Quanto a questão do lugar disponibilizado, acho que dependendo do que se pretende fazer, uma infraestrutura adequada é essencial sim. O espaço que é mostrado no vídeo não me parece um lugar com uma acústica boa, por exemplo, algo que é considerado muito importante na tradição da música de concerto (ou erudita). Portanto, se a intenção é ensinar esse tipo de música, é necessário que seja disponibilizada uma infraestrutura coerente com a música ensinada, para que assim os alunos possam "responder à altura". Em geral, as aulas dos projetos com ensino de música acontecem em locais meio (ou muito) improvisados, o que, na minha opinião, influencia bastante (em geral negativamente) no caminhar das aulas, ou ensaios. Me parece que por serem alunos de baixo poder aquisitivo, a precariedade não é vista por gestores e financiadores como um problema (como se essas aulas ainda fossem uma espécie de favor, o que não é porque em geral as verbas vêm de editais de fomento à cultura, quando não de secretarias de educação e cultura, por exemplo, o que significa que são verbas formadas por dinheiro dos nossos impostos). Enfim, essa normalização da precariedade, tanto por parte dos gestores e financiadores, como por parte dos alunos e professores que acabam aceitando essas condições, na minha opinião, acaba reforçando estigmas de subalternidade e incapacidade em crianças e jovens das camadas mais baixas, que muitas vezes já sofrem diariamente esses estigmas.

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  7. Só mais questões para reflexão:
    1)Quem é que não gosta de ter tempo ocioso? É possível por exemplo criar música, exercitar a escrita ou a leitura se sua vida adolescente está cheia de aulas, cursos, projetos?

    2)Será que realmente as pessoas mais pobres da nossa sociedade estão excluídas da mesma? Será que estas não funcionam como parte fundamental desta máquina social em que vivemos?

    3)Será que realmente a aula de música ou de qualquer outra coisa "tira" alguém da "marginalidade"? Será que os alunos que buscam as aulas já não são aqueles que nada tem com a marginalidade? Como este discurso pode ser válido num ambiente social, mesmo empobrecido, onde a ínfima minoria adere ao tráfico, ao roubo, etc.?

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  8. Júlia,

    Não consegui ver o vídeo, mas li os comentários.
    Ouso alguns comentários por conta da minha experiência não com projetos sociais, mas como professora do município durante alguns anos em ambientes e condições muito diferentes (trabalhei em escolas onde batucávamos nas mesas e latas de lixo, em escolas que tinham teclado, banda, grupo de flautas, escolas que tinham equipamento de som, com sala de música e sem sala de música).
    Assim como nem todas as pessoas estão interessadas em serem músicos, nem todos os que estão em risco de exclusão estão interessados em aulas de música.
    Mas, definitivamente, para os interessados em aulas de música, essas aulas trazem oportunidades importantes de convivência feliz e transcendente, que tiram os participantes "da rua" nessas oportunidades, mais que isso, não acho, não. Afinal, os conhecimentos apreendidos nestes momentos normalmente não se aprofundam (claro que já vi alunos tentando estudar na FAETEC), ou trazem oportunidade de trabalho remunerado (também já vi alunos trabalhando em projetos sociais depois, mas não sei como era a remuneração).
    Teve uma época em que trabalhei uma variedade de coisas hip hop com uns, Maria Clara Machado com outros, teoria musical com outros mais. Por essa experiência, não acho que aula de música seja espaço exclusivo para tocar instrumento ou cantar, se os alunos gostam de jogos e desafios, um ditado num teclado pode ser um, se eles virem muita TV, propor escolha de trilhas sonoras pode ser muito animado.
    Talvez os projetos, por dependerem de patrocínio e por terem necessidade de se justificar, optem por uma adaptação do Suzuki, afinal é um método famoso. E as músicas do coral talvez sejam escolhidas para facilitar junções com outros grupos para fazer aquelas apresentações prestadoras de contas com milhares de alunos.

    Depois escrevo mais.

    Beijo,
    Paula

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  9. acho esses projetos bastante interessantes. Ajudam sim a tirar as criaças das ruas. Mas nem sempre conseguimos , por mais que agente queira;as vezes querem , mas não conseguem , por cusa de certas companias .. em fim .. A música pode sim ajudar a tirar jovens das ruas.

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  10. acho que o espaço disponível pro projeto é ótimo. não deu pra ver direito pelo vídeo... mas não importa: sempre poderia ser melhor, é claro. mas SEMPRE trabalharemos com limitações... eu aprendi música num projeto em que muitos instrumentistas diferentes estudavam na mesma sala, e bastava isso. da mesma forma...
    sempre usei instrumento de projeto, custei a ter o meu. e em minas gerais isso é muito comum: a maioria dos instrumentistas de sopro aprenderam nas "bandas" (de bairro, do interior), e os instrumentos sempre são da banda. é claro que é melhor cada um ter o seu, mas a aquisição de instrumentos (da melhor qualidade possível) pelo projeto e a manutenção são muito mais importantes: cada um zela pelo instrumento que está usando e pronto.
    não sei se esses projetos nossos tiram as crianças das ruas. mas tenho certeza d q dão uma oportunidade de algumas delas chegarem mais perto dos seus sonhos. não deixa de ser um ambiente de convivência diferente da escola, mais livre e menos controlado, e provavelmente mais saudável, já que todos que estão ali estão pq querem.
    sobre inclusão social... acho que tb tem a ver com o repertório: de um lado... qual é a música que eles escutam e querem tocar? é possível haver um espaço pra essa música? e, de outro... o projeto é uma oportunidade de eles entrarem em contato com um outro repertório, né? MPB e música clássica, por exemplo.
    não sei, mas acho que é por aí. um projeto como esse sempre vai ter imperfeições... mas tenho certeza d q orienta muita cabecinha... e deve ser o lugar e a atividade favorita da maioria daquelas crianças... a maioria que nem vai ser músico profissional, mas que tá crescendo com mais oportunidades de convivência, entendimento...
    perguntem pra eles o que eles estão achando...

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  11. Todo conhecimento possui validade...

    A música enquanto transformador artístico é sensibilizador e auxilia diretamente as pessoas pela humanização. Pode ajudar algumas pessoas a saírem das ruas sim, porém, quem se encontra em situação de rua precisa de elementos básicos... Uma moradia por exemplo, parece redundante falar isso mas é fato.

    Sobre a dinâmica espacial, vi que é adaptado em sala de aula, não possuo entendimento de acústica para dar uma opinião aprofundada.

    Pode haver uma inclusão social bem efetuada com a música, pessoas através da música se encontram pela via que é uma arte consagrada e insere a oportunidade de expressão humana direta, algo que faz a pessoa perder sua possível invisibilidade social.

    Os instrumentos deveriam existir aos montes, para se poder tocar em casa e fazer bandas pelos lugares... mas pelo visto é uma questão financeira também... acredito que o ridículo do governo é o não apoio direto com a educação, não se investe massivamente.

    Sobre repertório imagino que seja meio batido mesmo... MPB é clichê, mas se é algo que as pessoas curtem enfim... Eu iria querer tocar rock...

    Enfim espero poder estar contribuindo.

    Obrigado Júlia Mendes Selles por me apresentar essa matéria.

    Monotelha

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