domingo, 29 de abril de 2012

Olá, pessoal,

Gostaria que vocês respondessem a algumas perguntas, elaboradas a partir dos textos mencionado abaixo. São trechos de uma reportagem virtual que fala de 3 projetos com ensino de música para jovens, em 3 favelas diferentes:



Monitoras de flauta doce na escola, ******** ***** , de 23 anos, e ***** *****, de 16, tiveram o primeiro contato com música clássica como alunas da escola na Rocinha.“A escola é nossa segunda casa”, diz ******** *****, que está lá desde os 12 anos. “Por causa de tudo o que aprendi aqui, meu gosto musical mudou e me tornei mais disciplinada e focada.”Como a maioria dos moradores da Rocinha, elas são filhas de imigrantes nordestinos que vieram para o Rio de Janeiro em busca de oportunidades. Agora, elas veem na música a possibilidade de ter uma vida melhor do que a de seus pais.


******* *******, coordenadora da Orquestra ** ******* *******, que é um projeto da ONG local ****** ****** ******* e tem patrocínio da Petrobras, empresa estatal de petróleo [disse que]:


“Nosso sonho é colorir as orquestras do Brasil com negros, pardos e mulatos, promovendo a diversidade”, diz a coordenadora, que aponta como o maior legado do projeto a abertura de horizontes dos estudantes e suas famílias. “Quando tocamos fora ou quando vamos assistir a um espetáculo no Theatro Municipal, por exemplo, levamos os parentes, para que possam se familiarizar com este universo, apoiar e ter orgulho de seus filhos.”


Perguntas:

1) O que vocês acham da relação que a monitora fez em seu depoimento, ao dizer que se tornou mais disciplinada e focada por ter aprendido música clássica e por seu gosto musical ter mudado?


2) Vocês acham que a música ensinada nos projetos possibilita uma vida melhor para os jovens, em comparação com a vida de seus pais? 


3) Frequentar o Theatro Municipal faz com que os horizontes dos estudantes e suas famílias sejam abertos? O que seria essa abertura de horizontes?

4 comentários:

  1. 1) O estudo consciente de um instrumento demanda o desenvolvimento de uma série de habilidades, entre elas a disciplina, o foco, a coordenação motora, dentre inúmeras outras. Penso que a disciplina internalizada ao longo de sua experiência musical, bem como a concentração, podem ainda ser empregadas em quaisquer outros âmbitos profissionais, caso a menina do exemplo opte por seguir carreira em outro ramo. Não vi relação entre o dado dela aprimorar sua disciplina e o fato de seu gosto musical ter mudado em seu depoimento. Entendi como ponderações distintas.

    2)Os projetos sociais de música atuam na complementação da formação cultural de crianças carentes, no sentido de se proporcionar o ensino de música e de instrumentos. Apresentam embrionariamente mais uma opção ao aluno, que poderá, se resolver levar a um outro patamar os conhecimentos inicialmente assimilados, transformar o aprendizado em profissão. Mas não necessariamente isso irá ocorrer. Dessa forma a música pode significar uma vida melhor, não apenas do ponto de vista financeiro, mas sob o aspecto de se trabalhar com algo que se goste, tendo em vista que muitas vezes os pais dos alunos atuam em sub-empregos, mal remunerados e ainda nada recompensadores sob uma ótica de realização pessoal.

    3)Acredito que sim. O contato com outras formas de manifestação artística, oriundas ou não de outras culturas, como no caso da música européia, proporciona um intercâmbio cultural que pode ser bastante enriquecedor. A arte se alimenta e se recria através desse tipo de processo contínuo. Creio ser uma experiência positiva, tal como ler um livro, visitar um museu, etc.

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  2. 1) Essa relação de ganhos de valores sociais a partir pode acontecer através de qualquer estilo musical. A música clássica foca muito a disciplina, mas estilos como jongo focam a luta pela defesa da comunidade e dos símbolos e conhecimento não-ocidentais, o amor, a troca, o hiphop foca a consistência e a fluidez da oratória e o valor da resistência, enfim, cada estilo precisaria de um estudo específico, mas fica claro que são um conjunto de valores onde a música clássica é garote. Existe uma tendência num mundo de exploração que é o de desagregação dessas comunidades que tiveram anos, ou séculos de constituição de lovalores intrínsecos a plenitude do ser humano, e num mundo capitalista essa desagregação acontece milhões de vezes mais rápida. Como a hegemonia européia nos países colonizados poucas vezes entrou em crises - com algumas exceções, Haiti, que está hoje na merda, do México, que hoje colhe os frutos nos territórios independentes do exército zapatista, na Bolívia, e alguns outros casos muito pontuais ou em processo de desenvolvimento - é natural que no Brasil, quando se está perdido num mar de horrores, a primeira tera à vista seja a música clássica. O fato do gosto ter mudado, é o esperado, ainda mais se esse gosto vier junto com o ódio ao funk, pagode e axé.

    2) Não tenho bola de cristal, mas quando se está numa empresa, ou você cresce, ou você é demitido. O que eu quero dizer é que mais do que a educação formal criar um tipo de conhecimento que te dá valor monetário, ela é antes o treinamento profissional. E quanto mais obediente, melhor.

    3) Não no caso da família, talvez no caso dos estudantes. Numa visão universalista, poderia abrir para qualquer um, uma vez que é um elemento para a soma, do total que te falta. Mas numa visão mais relativista, somente aqueles que forem lidar a fundo com este estudo poderão utilizar essas ferramentas para explorar novos territórios (abrir horizontes). Em outros casos, o que elas vão ver lá (concertos de qualidade a 150 balcão, café a 4 reais, muita verborração sobre história da música) é somente a triste constatação que para nunca vão ser plenos neste ideal - o que vai se traduzir em depressão. E a música provavelmente vai passar em branco, porque ninguém entende alguma música ouvindo-a uma vez ou duas.

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  3. 1) É muito difícil responder a essa pergunta pois realmente não sei o que ela quis dizer. Acho que as pessoas constroem elas próprias seus mundos, suas relações simbólicas com a realidade, mesmo que extremamente influenciadas por algo que vem imposto culturalmente de cima para baixo, o que parece ser o caso numa intervenção de uma escola que ensina música erudita na favela da Rocinha. O que eu quero dizer é que a escolha final é da monitora, e por isso fica difícil julgar pois não sei quais seriam seus reais motivos para ter "aderido" a um modus operandi inscrito normalmente numa música de tradição europeia.

    2) Acho que só o fato de ter a possibilidade de estudar música formalmente já diferencia a trajetória dela de seus pais, uma vez que provavelmente eles não tenham tido esta oportunidade. Agora, a questão de proporcionar uma vida melhor também me parece bastante relativa, mas posso pontuar dois aspectos. O primeiro o subjetivo, quer dizer, se ela se sente bem tendo aprendido uma coisa que seus pais não puderam aprender, então penso que essa satisfação pode se traduzir sim numa "vida melhor". O segundo seria o aspecto econômico, uma vez que a música também pode vir a ser profissão, e talvez mais bem remunerada e mais "satisfatória" a termos de sobrevivência do que viveram os pais dela.

    3)Acho que o Teatro Municipal carrega um simbolismo muito forte de elitização e poder, e essa mudança de horizontes poderia ser no aspecto por exemplo da "percepção" deste espaço como um ambiente opressor e de exclusão para os mais pobres. Porém na medida em que se fazem projetos de "democratização" a partir de políticas de preço a $1,00 nos domingos por exemplo, pode até ser que esses estudantes e pais virem frequentadores e com isso também passem a absorver e curtir aquele tipo de música que é lá tocada, pois nesse caso concordo com o Caio, é muito difícil alguém entender, ou gostar de uma música (ainda mais aquelas que duram 20, 30 minutos sem interação nenhuma com o público) ouvindo-a uma vez ou duas...

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  4. Mas será que o ensino formal de música (no sentido de ser um ensino institucionalizado, em ONGs, conservatórios, etc.) é em si positivo, essencial? A disciplina, a concentração, a coordenação motora, enfim, qualidades atribuídas ao ensino da música de orquestra (como disse o Caio, com outras palavras), também são desenvolvidas no pagode, no forró, no funk e em práticas do hip hop, atividades musicais que acontecem independentemente da existência de uma institucionalização das mesmas. Se os pais da monitora, por exemplo, tiveram experiências importantes e enriquecedoras no forró, o que faz as experiências da monitora na música de orquestra serem consideradas como uma "oportunidade"? Ela provavelmente aprendeu e aprenderá coisas que seus pais não aprenderam e vice versa; mas o que faz as experiências da monitora e das outras crianças e adolescentes serem "melhores" que a de seus pais?

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